quinta-feira, 21 de abril de 2011

DESCONHECIDO

Depois de um bom tempo sem inspiração pra terminar uma poesia que comecei já há um tempinho, finalmente consegui hoje... Não ficou das melhores, mas, em todo caso, é mais um filho que nasce...

Pintura surrealista nº 42 - Vladimir Kush
Dói em meu peito uma dor profana,
Uma angústia profunda do espírito,
Qual incerteza de uma mente insana
E, dentro em minhas trevas, medito.

Tenho em mim as saudades dos séculos
De tudo aquilo que não hei vivido
De tudo que o tempo desfaz em olvido
Como fosse essa vida feita de capítulos.

Sou eu assim um livro folheado ao vento
Com páginas em branco bailando ao léu
Com suas letras perdidas a bailar no céu
Descrevendo em sílabas meu desalento.

Sigo assim, a cada passo, meu caminhar confuso
A perseguir-me no escuro de meu labirinto oculto
E não me reconheço nas trevas, apenas um vulto
A penetrar meu próprio ser, um estranho, um intruso.

(iniciada em 12-jan-2011, terminada em 21-abr-2011)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

DIVERGÊNCIAS

Pensamentos, vinho e certezas incertas...

"O Grito", de Edvard Munch

Sou uma vaga de pensamentos mutantes
Uma nuvem de personalidades estranhas
Que se unem e se separam num instante
Um não-eu que em meu espírito se entranha

Sou como uma nuvem que pelos céus desliza
Mudando de forma ao sabor da turba e do vento
Numa busca infinita que em meu íntimo acalento
Como uma gota d'água, que evapora, e sobe, e aterrissa

Sou um não-sei-que de curiosidade infinita
Que quer conhecer de um tudo desse mundo vil
E que vasculha, e busca, e se alegra, e se irrita
À procura de uma resposta que ainda ninguém conseguiu

Ah! Sou um não-saber de tudo que é permanente e imutável
E não reconheço o que sobrevive ao eterno e ao infinito
E carrego em mim a angústia do saber-me finito
Um ser passageiro, incompleto e mutável

Sou uma verdade-falsa que faz-se aceita sem pesar
Uma certeza-incerta de um conhecimento ordinário
Que assim se reproduz insuspeita a brilhar
Mas que no fundo se reconhece: um eterno corolário.

(14 de abril de 2011)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

VENTO SUL

Depois de um bom tempo sem inspiração pra escrever qualquer coisa, hoje, com uma série de mudanças na minha vida a caminho e um delicioso cabernet sauvignon chileno à mão, sendo degustado ao sabor de uma bela e fria brisa polar da janela do terraço, finalmente me inspirei...

Vista da Igreja da Penha à noite
Sopra essa noite um vento frio do sul
Que me arrepia a pele e liberta o pensamento,
A admirar a cidade, coberta de um escuro azul,
Fugindo de mim mesmo, às estrelas, por um momento.

Esse vento polar de abril acaricia minha face
E sussura em meus ouvidos uma melodia suave e triste
Que me leva a olhar e pensar sobre tudo que existe
Enquanto uma melancolia me toma o coração, sem disfarce.

Um não-sei-quê de tristeza, de agonia, de saudades
Uma vontade de cruzar o firmamento num instante
E alcançar aquela estrela lá no céu, tão distante,
Em que me espelho: um brilho de vida e possibilidades.

E cá na terra, um mar de estrelas estáticas de bilho falso
A inundar a baixada, e o morro, e o mar, e a Ilha lá ao fundo
Cada uma a guardar outro olhar errante, em pedestal ou cadafalso,
Enquanto segue a vida, em sua marcha infinita, a mudar o mundo.

(07 de abril de 2011)