Acabei de preparar um trabalho e já me preparava para ir dormir, mas como inspiração é uma coisa que não tem dia, nem hora, nem lógica, "brotou" algo novo nesse mar de letras...
Sou fruto doce
Pendurado no galho
Esperando uma mão que me colha
E me leve à uma boca, que me morda,
Me mastigue, me saboreie, me engula.
Mas se não há mão,
Ali permaneço, pendendo entre folhas,
Banhado de orvalho, queimado de sol.
E envelheço, e murcho ou seco, e caio
Pela carícia do vento em meu corpo velho.
Entregue aos braços da brisa,
Eu pulo do galho, me precipito, me espalho
Pela terra, a abraço, com estardalhaço
E me desintegro - já não sou mais fruto:
Apenas sementes junto ao chão, frio e quente.
Ali eu me deixo, não me queixo,
Até que de repente, num ato insolente,
O que era semente se racha, se rompe, se fende,
A transbordar um broto, que ao chão mal se prende
E que cresce, consome o gérmen do que era a semente.
Crio raízes, me prendo ao chão
E olho pro céu, abro os braços pro sol e pras nuvens
E vou me esticando, pra beijar as estrelas, sussurrar pra Lua.
Quero tocar o azul do céu, crescer, descobrir o infinito:
Assim vou me enchendo de galhos, e folhas, e flores, e brotos.
Já agora, tão crescida e florida
Estática observo o correr do tempo, de cada animal em sua lida
E converso com os pássaros, e lagartas, e mariposas, e formigas
Que em mim têm uma casa, um refúgio, um abrigo e também comida,
Enquanto exala o cheiro de minhas flores, que anuncia nova vida.
Também as flores envelhecem, e murcham, e secam, e caem
E surgem em meus galhos caroços estranhos, que crescem e crescem
E aumentam, e incham, e engordam, e dilatam, e intumescem,
E mudam: de marrom para verde para amarelo para vermelho
Num arco-íris de vida nova que se anuncia, e o dia amanhece.
Sou então novo fruto doce,
Pendurado no galho, entre verdes folhas,
A esperar pela mão da camponesa ou do fatídico tempo
Que me consumam e minhas sementes, espalhadas ao vento,
Repitam, nesse ritmo lento, outro ciclo de vida e morte e renascimento.
(09 de setembro de 2010)