domingo, 24 de maio de 2015

Sobre bruxas e sonhos

Quantas vezes eu penso que vivo
Mas, na verdade, durmo entre as bruxas
Que povoam os céus de meu pensamento,
Cruzando o ar em vassouras de delírios,
Fazendo em seus caldeirões ferventes
Poções de sonhos e desejos secretos?

E como me encantam com sua beleza etérea,
Que dura apenas o tempo de um beijo,
Me iludem apenas por breve momento,
Em seguida me mordem, me cospem, me arranham,
Retiram de mim a energia que já não tenho,
Depois rolamos, corpos abraçados, na lama.

Conversamos longamente à luz branca da lua,
Entre danças, cantos, súplicas e murmúrios difusos
Por entre as nuves cinzas no céu da noite,
Testemunhas de um ritual pagão e profano
Que rasga o véu negro do silêncio noturno,
Exaltando o desconhecido da vida e seu curso.

Depois me deixam, como chegaram, em silêncio,
Sumindo por entre as trevas da fria madrugada,
Reticentes, sorrindo faceiras ante meu espasmo.
E ressurjo de mim, o mesmo? Talvez renovado?
Apenas saudoso da presença daquelas bruxas
De seu canto, sua magia, seu poder temporário.

(23 de maio de 2015)

domingo, 18 de março de 2012

ENSINAR, EDUCAR, LECIONAR?

Poema que fiz para a reunião de planejamento da Escola Municipal Rotary, em Santa Cruz da Serra, Duque de Caxias/RJ, onde trabalho, a pedido da Equipe de Orientação...


Ensinar, educar, lecionar?
Não sei qual o mais correto,
Pois do outro não sou arquiteto,
Gosto de ver o outro pensar.


Falta tinta, falta água, falta luz.
Não pode faltar o mais precioso,
Que é perceber um pequeno orgulhoso
Mostrando o brilho que seu olhar reluz.


Sou professor, um bicho mutante
Que elogia, dá bronca, encara, acalenta.
Que às vezes, na bronca, ri, não aguenta,
Enfim, aquele que sonha a cada instante.


Sou professor, mas o que sou então?
Um garimpeiro dos sonhos da vida?
Pessoa fraca, forte, hesitante, aguerrida?
Reticências, dois pontos, exclamação?

Sou professor, mas, o que isso diz?
Vagar entre pó e quadro e apagador?
Ser calado, efusivo, recatado, questionador?
Ou ser na vida um ensinante-aprendiz?

Deixo as respostas suspensas no ar,
Pois no final são poucas as minhas.
Do contrário, seria só uma erva daninha,
Intrusa no jardim das flores do sonhar.

(14 de março de 2012)

sexta-feira, 9 de março de 2012

BAR, MÚSICA & SONHOS

Um poema recente que aguardava ser jogado aos tubarões do Oceano... Escrevi num dia em que estava num bar próximo à minha casa, com meu amigo Helismar Azevedo: bebíamos e conversávamos...



No bar, enquanto bebo minha cerveja
A música me invade os ouvidos.
Traz sentimentos, memórias, emoções,
De sonhos antigos e planos recentes.


E, no ritmo da melodia, me pego descrente
De que possa mudar algo com minhas ações,
Ou reconstruir velhos sonhos ruídos
No mar de loucura que minha mente veleja.


E, por mais difícil que prosseguir seja,
Sigo na marcha, de alguns sonhos munido,
Escolhendo entre caminhos e bifurcações
Que se abrem e se estendem à minha frente.


Busco não me afogar no mar de minha mente,
Enquanto velejo, à deriva em divagações,
Das quais às vezes saio de peito ferido,
Pelos sonhos loucos que meu coração almeja.

Rio, 23 de fevereiro de 2012.

terça-feira, 6 de março de 2012

CÂNTICO À LUA

Uma homenagem à beleza da Lua e sua luz, tão linda nos últimos dias, iluminando os meus caminhos...



Daqui te observo e te admiro:
Bela Lua no céu a se exibir.
Me embriago em tua luz a cair
Enquanto viajo, sonho, deliro.


Desce, Lua, e vem dar-me a mão
Caminharemos juntos na rua escura
Entorpecido eu por fogo e paixão
Por terdes vindo à mim, bela Lua.


Se alguma névoa esconder tua face,
Que não demore, seja passageiro,
Que ligeiro se retire teu disfarce
E eu possa te rever, sentir teu cheiro.


Então, que eu possa ficar ao teu lado,
Uma estrela a te acompanhar no céu
E seguir-te pelo infinito carrossel
De mãos dadas, por tua luz iluminado.

(06 de março de 2012)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

POESIA VAZIA


Estávamos descendo a serra, vindo da cachoeira Ronco d'Água e ouvindo música, que já não me recordo qual era... Mas a música me inspirou a escrever. Eu estava há tempos sem escrever nada e com muita vontade de produzir, mas sem ideias sobre o que escrever...




Quero escrever um poema que não diga nada
Ávido que estou por escrever, mas sem ideias
Resolvo então preencher algumas linhas
Com palavras perdidas, a torto e a direito.


E quero que ele seja apenas isso: um poema
Que não transmita mensagens novas ou velhas
Sejam as mensagens de outros ou minhas
Não quero que seja belo, mas imperfeito.


Esse poema será apenas uma lauda recheada
Não terá métrica, belas palavras: será mal-feito
Como um jardim abandonado às ervas daninhas
Uma casa antiga, em ruínas e quebradas telhas.


Apenas manterei nesse poema umas rimas velhas
Que se esforçam por completar suas linhas
Ainda que de forma torta, de mal jeito
Para ser apenas uma simples poesia forçada.


Valença, 21 de fevereiro de 2012.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ESCREVER-ME... Como nos velhos tempos...

Neste início de 2012 fiz um mergulho cultural na capital paulistana, onde tive a oportunidade de reencontrar uma velha amiga da minha adolescência: a Olivetti Lettera...
Foi durante a mostra "Através" (Mira Schendel), na Caixa Cultural de São Paulo, a 08 de janeiro de 2012...



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O QUE SOU

Um grande amigo (Marcelus Cezar) apresentou-me esse vídeo delicioso. Viajei na sua inspiração mutante e inebriante e escrevi um poema embebido de sua viagem...

Roberto Catani - "La Funambola"

Sou uma gota que cai e
Encontra o chão, estilhaçada.
A areia no ar carregada
Por um vento frio
Que vem do Sul.


Sou um abismo em mim,
Poço sem fundo e sem
Fundamento.
Sou um canto lúgubre e
Triste, um lamento.


Sou a rima torta do poema,
Ao mesmo tempo coesa e
Desconexa,
No ritmo entorpecente
Duma métrica que desindexa.


Sou uma incógnita e
Uma interjeição,
A frase solta nas páginas
De um livro em branco,
Que se desfolha no vendaval.


Sou um ser que não se sabe
Vivo nesse mundo de ilusão.
Que prefere a pergunta à
Resposta fácil,
No axioma, uma interrogação.


Sou a reticência da frase,
A verdade oculta no disfarce.
Sou um andarilho num
Deserto de estrelas
Que surgem, brilham, se apagam.


(15 de dezembro de 2011)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

HOJE

Estava lendo a crônica "Os flamboyants", do Rubem Alves, no site Releituras e fiquei tocado pela sua poética. Depois de um bom tempo sem escrever nada, eis que brota de uma súbita inspiração mais um (belo) filho...


Não quero o ontem nem o amanhã.
O ontem é território da lembrança,
O amanhã é propriedade do mistério.
Quero o hoje: aqui me sou a sério.

O passado é isso: já passou, não volta.
Não há motivo para revivê-lo, revisitá-lo
A não ser pela memória de quem fui,
Pois já agora sou um outro, que ainda flui.

O futuro, este nem sequer existe ainda,
A não ser nas possibilidades de meus atos.
Estes, que estão no tempo agora, a me encarar.
Pois então, aquele não pode o que sou desonrar.

Preocupo-me com o presente em que me vivo
E que me traz as infinitas possibilidades do eu.
Posso ser e fazer o que eu quiser, desde agora.
O presente: aqui dentro. Passado, futuro: lá fora.

(31 de outubro de 2011)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ESPELHO VAZIO

Pensamentos, dúvidas, questionamentos, mudanças... e um novo poema-produto...


Sou poeta e como tal, fujo de mim
Para encontrar-me, perdido e insano,
Entre as letras que vêm à luz de meus dedos
E deitam no leito branco, frio e plano.


Como poeta, finjo que sou o que queria ser,
Talvez um dia, talvez nunca, vai saber.
Mas sou poeta e busco a palavra indócil domar,
Esta, Pégaso que reage e me derruba a voar.


Na minha poesia exploro o obscuro que encaro,
Perscruto cada minúcia desse mistério: a vida.
Só encontro mais perguntas e respostas desacolhidas
Enquanto sigo, passos tortos, na busca do que me é caro.


Qual seja: saber o que sou, como sou e por que sou,
Que sentido há no negro cosmo que à noite admiro.
Talvez não existam respostas, como sempre se achou
E o Universo, apenas um grande espelho vazio onde me miro.


(05 de setembro de 2011)

sábado, 20 de agosto de 2011

PENSAMENTOS


A reportagem do "Fantástico" de 17/07/2011 sobre as auroras boreais me deixou emocionado pela beleza e imponência do Universo e reflexivo sobre como somos "nada" frente à ele. Escrevi uma quadra, aproveitando essa inspiração... Publiquei no Facebook e esqueci de colocá-la também aqui...


Meus pensamentos são auroras boreais no céu escuro de minha mente
Que dançam caóticos, num frenesi apaixonado pelo desconhecido
E assim como vêm, tão logo me abondonam no frio de repente
Por saber-me hoje vivo e existente, porém amanhã, de todo esquecido."

(17 de julho de 2011)