quarta-feira, 4 de agosto de 2010

POEMA DE UM LOUCO

"A nave dos loucos", de Hyeronimos Boch
Refletindo sobre a loucura, tive a inspiração de escrever esse poema. Afinal, apesar de ser tão má afamada e rejeitada, a loucura é essencial ao ser humano. Como escreveu divinamente Erasmo:

"A Loucura fala

Digam de mim o que quiserem (pois não ignoro como a Loucura é difamada todos os dias, mesmo pelos que são os mais loucos), sou eu, no entanto, somente eu, por minhas influências divinas, que espalho a alegria sobre os deuses e sobre os homens. (...)"
(Erasmo de Rotterdam (1467-1536), "Elogio da Loucura")



Eu sou um louco que vaga só,
A zombar dos que passam
E me estranham e me ameaçam
E dos que de mim têm pena ou dó.

Sou louco, e em minha desdenhosa loucura
Me divirto e rio e corro e páro
E opto, ante a regra, pelo que é raro
Numa busca infinita que em meu peito perdura.

Sou poeta, e louco, e alegre, e triste.

Sou alegre na tristeza do saber findar-me um dia,
Triste pelas alegrias, que também um dia cessarão.
Sou poeta, para viver o que o tempo assim me adia,
Na loucura de palavras e letras que também se apagarão.

Vago assim a dançar na chuva de um sonho triste,
Através de rimas óbvias em uns versos dissonantes,
A procurar por outros corações loucos e errantes,
Na loucura de uma poesia insana, que subsiste.

(15 de julho de 2010)

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