sábado, 28 de agosto de 2010

ARQUITETURA DIVINA

Sou um arquiteto de versos tortos
Que por inspiração, mais que estudo,
Equilibro no papel meus sentimentos mudos,
A contruir com palavras meus múltiplos "Eu":
O vivo e os mortos.

Reconstruo um templo que no tempo se perdeu,
Onde cultuava uns deuses pagãos, profanos,
Que não conhecia e não entendia - todos insanos,
A governarem meu mundo-Eu em caos e agonia:
Por minha rebelião, cada um morreu.

E das ruínas do antigo templo, outro se construía,
Voltado para uma meditação em mim, já sem divindade,
À revelia de Javé, Maomé, Orixás e da Trindade,
Numa busca de mim, em mim, achei-me um Deus-Eu-Mesmo.
Dentro em mim uma velha crença assim morria.

Renasce agora, então, de um longo vagar a esmo,
Um construtor de sonhos, com tijolos de verbos,
Donde um templo assim se insurge: humilde e soberbo.
Erguido com paredes de palavras, e rimas, e versos
Para o culto de um mortal-demônio-deus: eu mesmo.

(28 de agosto de 2010)

2 comentários:

  1. Michel,
    Adorei seus versos e já adicionei seu blog a Meus favoritos, estarei acompanhando.
    Me identifico muito com Pablo Neruda. Você já leu o livro dele chamado "Confesso que Vivi".É sua autobiografia. Lindíssima!!!
    Parabéns! E não esqueça de me convidar para o lançamento do seu livro. Abraço

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  2. Michel,
    Muito bom!
    Vejo em seus versos tantos mestres e ao mesmo tempo percebo muito de vc!
    Nossa! Fiquei arrepiada com essa sua poesia, tive a imagem de uma metamorfose ambulante, me perdoe se exagero, mas vc gosta de Raul Seixas, só que bem mais politizado, né?
    Termino com uma frase de Neruda... A poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem.

    Pablo Neruda

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